A princípio este recurso era para falar apenas das minhas experiências fora do país mas agora resolvi que esta é uma ferramenta poderosa pois permite que eu me expresse além do movimento.
Aos 45 anos e com um longo percurso em diferentes nichos da nossa área da Dança me sinto confortável para disponibilizar minhas idéias e o que acredito ser necessário para que algo possa ser mudado.
Antes de qualquer mudança é necessário a reflexão e aqui abaixo posto uma das minhas feita no Facebook e surpreendentemente compartilhada por muitas pessoas.
Tenho percebido nesta última década principalmente, em todos os meios e núcleos que percorri e percorro dentro do nosso mundo dançante uma fragmentação e um incômodo generalizados. Aqui no Brasil onde vivo, trabalho e batalho diariamente como tantos outros, existe um movimento que está cegando a todos nós. Creio que cada um faça sua escolha artística por uma série de motivos e isso é maravilhoso. É essa diversidade que enriquece a busca, que engrandece o artista e viabiliza a arte pois permite a liberdade da escolha. Mas o que percebo é uma cisão no pensamento e na generosidade que a arte proporciona fazendo dela um caminho rugoso, enrijecido. Creio que cada um tem o direito de ir atrás do que acredita, daquilo com o qual se identifica, afinal cada um tem uma história, um porque de estar na dança. Que todos a amam não há dúvida , então fica aqui um questionamento do porque estamos fazendo dela um campo de batalha entre nós mesmos. Lá na Alemanha, no pouco tempo que vivi há espaço "para todas as tribos", sem preconceitos , sem verdades absolutas. Talvez porque haja público para todos, sempre, sempre, sempre. Se estamos assim nos distanciando ao invés de nos aproximar e construir algo forte e consistente há algo de muito errado com a gente.
Achamos que estamos vendo além, mas no fundo me parece uma enorme ilusão, "um ensaio sobre a cegueira".Cada um deve buscar aquilo que acredita sem julgar o outro ou desmerecer sua escolha. Se eu ou você não nos identificamos com algo, ok, mas que tenhamos a generosidade de buscar nosso caminho sem achar que o que fazemos é a verdade única. A troca é necessária e urgente. O todo é maior que a soma das partes. Só uma reflexão.
E ainda uma consideração sobre o mesmo texto recebida de um amigo que vive no exterior . Um amigo que é metade mistério e metade verdade, André Luis ( Manchester - Inglaterra )
" De quais novos pensamentos, desejos e ações seremos capazes após alguém nos verbalizar o que muitos sentem, mas não conseguem dizer? Ainda não se sabe... É preciso coragem por parte de quem verbaliza uma angustia coletiva. Para alguns essa audácia é retórica e puramente simbólica em termos de ações práticas. Para muitos outros, essa audácia consegue lhes representar algo honesto, necessário e até mesmo gentil.
Palavras que catalisam um desejo coletivo conseguem nos por em estado de observação sobre nós e o mundo. Essa é sua verdadeira ação. Pois, é dessa observação atenta que reside a possibilidade de modificarmos a forma como pensamos e sentimos o nosso fazer. Quem sabe assim, não “caia a ficha” de que as situações incomodas vividas na atual realidade podem vir a ser - acredite - até mesmo pontualmente necessárias, na medida em que são elas as circunstâncias que nos convocam a refletir sobre as direções de nosso próprio destino coletivo.
Uma vez convocados paramos de reproduzir para pensar sobre o feito.
E que do feito de suas palavras algo novo no mundo dançante possa florescer.
Um beijo."